terça-feira, 6 de abril de 2010

Pior chuva em 30 anos causa estragos e dezenas de mortes no Rio.

Bairros ficaram ilhados e sem energia. Aulas foram suspensas. Moradores relataram momentos de medo e perigo.

O Rio de Janeiro registrou nas últimas 24 horas volume de chuva recorde para um único dia, causando estragos, deslizamentos e 82 mortes em vários locais da região metropolitana desde a noite de segunda até a tarde desta terça-feira (6).

As Zonas Oeste e Norte foram as mais atingidas, especialmente as regiões perto do Centro da capital carioca. Bairros ficaram ilhados e sem energia. Há ainda registros de grandes volumes de água em toda a cidade, segundo o Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro (Georio). Em outros municípios da região metropolitana, como Duque de Caxias, também ocorreram estragos.

Muitos moradores relataram momentos de perigo e medo. "Agora depois da enchente eu passei na casa de cima. Se eu estivesse lá embaixo eu morreria, porque desta vez a água atingiu o teto", disse a técnica em enfermagem aposentada Dalmair dos Santos Lima, 70 anos, moradora de São Gonçalo.


Pelo menos 200 pessoas foram resgatadas por técnicos da Defesa Civil na cidade do Rio de janeiro desde o início das chuvas até por volta de 13h desta terça. As encostas de todo o Rio correm risco de desabamento.

Chuva recorde

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os dados indicam que o volume foi o maior desde 1962. Já segundo a prefeitura do Rio, o volume registrado bateu o das chuvas de 1966, quando tempestades também causaram estragos no município.

O Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro (Georio), que analisa os dados pluviométricos de 32 locais da cidade, destaca que, somente nos seis primeiros dias deste mês, já choveu na maioria das estações mais do que em todos os meses de abril desde o início da série histórica, de 1997.

Desabamento por conta das chuvas Dados do arquivo do Inmet em Brasília apontam que, no dia 16 de janeiro de 1962, quando fortes chuvas também causaram estragos no município, o volume havia sido de 167,4 milímetros em 24 horas. O instituto ainda não tem dados das últimas 24 horas, porque, segundo Lúcio de Souza, meteorologista do instituto no Rio, os técnicos não conseguiram chegar ao trabalho nesta terça.

A estimativa de ser a maior chuva desde 1962 é feita com base nos dados do Georio, cujos dados também são utilizados por institutos como Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) e Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

"Infelizmente não temos informações das nossas estações nas últimas 24 horas, mas os dados prévios [do Georio] mostram que se trata de um recorde", comenta o meteorologista Luiz Cavalcante, do Inmet.

O Georio aponta que, nas últimas 24 horas encerradas 14h27 desta terça, a maioria das 32 estações de medição registraram chuvas acima de 167 milímetros.

Em Vidigal choveu 246 milímetros em 24 horas; na Rocinha choveu 282 milímetros; na Tijuca, 261 milímetros; e no Jardim Botânico, 276 milímetros.

De acordo com meteorologistas ouvidos pelo G1, as chuvas fortes que atingem o rio são "anormais" para a época causadas por dois fatores: o calor acumulado na atmosfera, uma vez que as temperaturas registradas na cidade foram muito elevadas no verão e uma frente fria que passou pela região.

Para Lúcio de Souza, do Inmet, a frente fria é a principal razão. Ele destacou que, embora com volume atípico de chuva, trata-se de uma situação normal para a época. "A condição da atmosfera, por causa da alta umidade em razão do verão, favoreceu."

Gustavo Escobar, do Inpe, chama, no entanto, a situação de "anômala". "A frente fria que chegou, combinada com atmosfera carregada de umidade e o calor dos últimos tempos, foi um gatilho para o temportal. A combinação provocou esse evento anômalo."

Técnico do Climatempo, Alexandre Nascimento disse que o forte calor dos primeiros meses do ano foi crucial para o forte temporal. "A média de temperatura em janeiro e fevereiro ficou acima dos 36º, de cinco a seis graus acima do normal. Caiu um pouco em março, com média de 33º, mas também acima do normal. A frente fria encontrou a atmosfera muito quente, úmida, e o volume de água foi uma resposta a todo esse calorão."

Aquecimento global?

Para o meteorologista Igor Oliveira, do Alerta Rio, ligado ao Georio, não é possível associar o fenômeno, que classificou de "atípico", com o aquecimento global, mas também não se pode descartar sua influência.

Para ele, abril deste ano vai ficar marcado. "As chuvas já estão acima do normal comparando com outros meses de abril, então mesmo que daqui para frente chova pouco, isso vai contribuir muito. A situação é anormal, embora haja uma explicação, que é a combinação da frente fria com a atmosfera quente e úmida. Muita gente gosta de dizer que é o aquecimento global, e essa é uma hipótese muito provável, mas não dá para saber, precisamos de estudos mais amplos."

Oliveira destacou que a maré alta na noite de segunda ajudou a favorecer os alagamentos na cidade do Rio.

Autoridades

O governador do Rio, Sérgio Cabral, destacou que a “grande causa” das mortes são as ocupações irregulares. “Entre os mortos, todos praticamente (estavam) em áreas de risco”, disse, em entrevista por telefone à Globo News, no começo da tarde desta terça-feira (6). “Pediria pelo amor de Deus que as pessoas que estão em áreas de risco saiam, procurem centros sociais”, completou.

O prefeito Eduardo Paes recomendou, durante a manhã, que a população não saísse de casa. A cidade ficou em estado de alerta máximo. "Nosso apelo é para que as pessoas permaneçam em casa, não saiam de casa, não levem seus filhos ao colégio”, disse Paes. A prefeitura determinou a suspensão das aulas.


Foto e Fonte: G1 e Portais de Noticias

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