Por Juliana Rosas, da Ascom/UEPB
A Organização Não-governamental (ONG) suíça Presse Emblème Campagne (PEC) - Campanha Emblema de Imprensa, em português - anunciou esta semana que um total de 59 jornalistas foram assassinados durante o exercício de sua profissão este ano, o que representa um aumento de quase 10% em relação aos 53 que perderam a vida no mesmo período de 2009, sendo a América Latina a região com maior número de mortes.
Por continente, a América Latina detém o recorde de jornalistas assassinados em seis meses (24 no total), seguida da Ásia (14). A África apresenta uma preocupante tendência em alta (09), constata a PEC. Os países mais perigosos para os jornalistas foram o México, com nove profissionais mortos, Honduras (08), Paquistão (06), Nigéria (04) e Filipinas (04), segundo esta ONG com sede em Genebra e que milita a favor de uma melhor proteção dos jornalistas nas zonas de conflito.
As causas de todas as mortes são variadas, mas os profissionais foram particularmente vítimas da guerra e conflitos entre traficantes de drogas. O número de jornalistas mortos não deixou de aumentar nos últimos anos. Em 2009, a PEC contabilizou 122 jornalistas mortos, contra 91 no ano anterior. A relação completa de vítimas pode ser encontrada no portal www.pressemblem.ch.
No mês de maio, publicamos neste mesmo blog, um texto sobre a liberdade de imprensa, comemorada mundialmente no dia 03/05. Fizemos uma pergunta que todos os profissionais da área devem se perguntar há muito tempo: temos liberdade de imprensa? O número de mortes de jornalistas - mortos apenas por estarem na profissão - denuncia que ainda estamos longe de plena liberdade e respeito para com os jornalistas, por parte de diversos segmentos da sociedade de alguns países.
O professor do Departamento de Comunicação da UEPB, Rômulo Azevedo, comentou, à época, que o ofício de jornalista é, ainda, uma das profissões mais perigosas do mundo e que em muitos lugares, este trabalho (ou o profissional) não é visto com bons olhos. Ele reforçou que em alguns países como o Brasil, supostamente democráticos, não existe mais censura prévia, mas não há ainda uma plena liberdade de opinião, há uma espécie de censura econômica.
Por causas extremas, vida no limite
A investigação e divulgação de casos de corrupção, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, coberturas de guerras e questões políticas, revelam-se alguns dos principais motivos de morte de jornalistas no mundo. Grande parte dos jornalistas mortos pertence a jornais (57%), seguida de imprensa televisiva (26%), rádio (20) e internet (02%). São tipos de mortes os seguintes: assassinato (73%), combate (18%) e em tarefas perigosas (9%).
Com o crescimento das assessorias de imprensa em todo o país e a crise dos jornais impressos, muitos jornalistas acabam sendo empregados por estas primeiras, o que pode gerar uma visão equivocada que jornalistas estão mais seguros. Claro, assessorias de comunicação possuem outras problemáticas e são causas de muito estresse profissional, especialmente quando envolvem política. Não podem ser comparados aos reais campos de guerra, mas não podemos esquecer nossos colegas que diariamente correm risco para trazer a população a verdade dos fatos - ou os próprios fatos - de regiões longínquas ou perigosas. Lembremos também que há até hoje casos não são solucionados, muitos sequer investigados e os criminosos, impunes. No famoso caso Tim Lopes (jornalista assassinado em 2002 por traficantes de drogas e que trabalhava para a emissora Globo) um dos participantes do crime ganhou regime semiaberto em 2008.
Um levantamento feito pelo Instituto Internacional para a Segurança da Imprensa (Insi) e divulgado no último dia 28 de junho, aponta que em 2010, 42 jornalistas já foram mortos no mundo todo. Abril foi o mês mais violento para a classe, com 17 jornalistas mortos. O relatório mostrou ainda que em oito de cada 10 casos não houve punição.
É um 2010 negro para a profissão até agora. Nossa realidade em ano de eleição presidencial deve aguardar disputas na imprensa, assim como a cobertura da Copa do Mundo provocou desavenças. Bem, claro, são casos em que não houve casos extremos de assassinato nem se espera que haja. Porém, é em situações de divergências e em que a democracia está em jogo que se nota como o país lida com as opiniões contrárias e a liberdade de comunicação.
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