Rio de Janeiro – Jornalistas promoveram hoje (31) um protesto contra o fim da edição impressa do Jornal do Brasil (JB). A manifestação foi realizada na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, reunindo cerca de 200 pessoas. Fundado em 1891, o JB passará, a partir de amanhã (1) a ser publicada unicamente pela internet.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, Suzana Blass, lamentou a decisão da empresa e demonstrou preocupação com as prováveis demissões de funcionários.
“A empresa afirmou que aproveitaria 65 jornalistas, mas nós fizemos uma conta e concluímos que são 33 profissionais, entre estagiários e jornalistas formados que serão aproveitados. Para o mercado, o fim da edição impressa significa menos uma fonte de informação e de opinião. Para a história do jornalismo no país é como jogar nossa memória no lixo, pois o JB sempre teve uma grande importância cultural e política no cenário nacional”, afirmou Suzana.
O jornalista Israel Tabak destacou a importância do JB durante a ditadura militar pós-64, quando o jornal adotou uma posição independente do governo. “A saída de circulação do Jornal do Brasil é uma tragédia para a imprensa brasileira. O JB foi o primeiro a valorizar a reportagem e a qualidade da informação. Mesmo na ditadura, conseguimos driblar a censura, fazendo matérias com denúncias sociais, que mostravam os problemas do Brasil, mesmo numa época triste como aquela. Eu conseguia fazer denúncias, mas não era preso, porque a direção do jornal dava respaldo”, contou Tabak.
O JB detinha tanta confiança de seus leitores, que servia como referência política e cultural, segundo lembrou o jornalista José Antônio Gerheim, que trabalhou no jornal na década de 80. “O grande valor do Jornal do Brasil era a credibilidade. Uma manchete do JB tinha a confiança irrestrita dos leitores. Se alguém dissesse: deu no Jornal do Brasil, encerrava a discussão”, lembrou Gerheim.
O jornalista Ancelmo Gois, que trabalhou seis anos no JB, lamentou a perda da versão impressa. “O JB foi, durante um tempo, o jornal mais influente, o mais vanguardista, o mais inquieto e o mais polêmico jornal brasileiro. Reunia uma redação de grandes jornalista. Muitos deles viraram nomes de ruas, como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, João Saldanha, Carlos Drummond de Andrade”, disse Ancelmo.
Na última edição impressa, a empresa justifica a migração para o formato digital como resultado da evolução da mídia, para conter custos econômicos e até por questões ecológicas, ao se evitar a derrubada de árvores, usadas na fabricação do papel. Nos primeiros 15 dias, o acesso ao conteúdo do jornal digital será gratuito. Após este período, será cobrada uma mensalidade de R$ 9,90 para se ter acesso às informações.
O diretor de Administração e Tecnologia do JB, Humberto Tanure, prometeu que não haverá demissões de jornalistas e que a redação deverá ser mantida com 70 profissionais, podendo crescer no futuro, com a incorporação de novas plataformas, como leitores digitais, chamados de tabletes, e os telefones celulares com acesso à banda larga, os smartphones.
“A empresa sempre apostou na modernidade. A inovação está no DNA do JB e esta é mais uma etapa em que estamos acompanhando o que acontece na imprensa brasileira e mundial. A tendência de migrar do papel para os bits e bytes é irreversível e nós tomamos a iniciativa de ir na frente”, afirmou Tanure.
Segundo ele, o conteúdo do JB estará acessível em tabletes dentro de um mês e nos smartphones até o final do ano.
Edição: Rivadavia Severo
Fonte:
Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
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